quinta-feira, 1 de abril de 2010

Apresentação - 1º Capítulo

Eu sabia que ele existia, sonhava com ele desde a primeira vez que o vi e apaixonei-me. Pois mas o que leva a este sofrimento, que dói e magoa cá dentro, foi esse mesmo motivo: a primeira… e a ultima vez que o vira.

Já passara dois anos e o meu pai nunca viu o reencontro. Meu pai, chefe da polícia, tinha poderes, ou como diz a minha mãe: não são poderes, são dons que nos salvaguardaram um dia. O meu pai não gostava muito da ideia de me contar desses seus dons de ver o futuro (como podem imaginar dava-lhe imenso jeito na profissão dele), por isso era a minha mãe que falava neles com orgulho por ter um marido ‘talentoso’ (se é isto que podemos chamar). Ansiava um dia que ele visse me quisesse falar destes seus dons e me mostrasse se realmente iria conseguir o reencontro. Em relação aos dons do meu pai, a minha mãe contava tudo porque sabia que eu era interessada na matéria sonhando um dia poder ficar com esses seus dons. Claro que tinha algum receio de, a princípio, me baralhasse um bocadinho as ideias mas sabia que mais tarde ou mais cedo me iria habituar.

Nestes últimos tempos o sofrimento tem cada vez mais aumentado e realmente tornado mais sufocador: uma corda da garganta e um balde de água prestes a rebentar nos meus olhos. Acordava e adormecia com essa dita agua nos olhos, mas ultimamente, tal como o sofrimento, os meus sonhos têm sido sufocadores: não me lembrava do que sonhara e a imagem do rapaz estava a desvanecer dentro da minha cabeça. E a história que eu desejava contar era que realmente desvaneceu e nunca mais me lembrara do rapaz, mas a verdade é que eu não o queria esquecer. Queria guarda-lo q relembra-lo para sempre. Então fiz uso do meu talento nato para o desenho e, daquelas poucas memorias que ainda restavam da minha cabeça, fiz o seu retrato com aquele lápis que Pedro me oferecera nos anos. Posso considerar o meu melhor amigo a minha vida, ele sabia de tudo, confiava nele em qualquer coisa que fazia. Pedro era Rita e Rita era Pedro (sim, Rita é o meu nome). É ele que ainda hoje me ajuda nas decisões mais importantes da minha vida e o único (para alem da minha mãe) a quem eu confio o suficiente bem para contar o dom do meu pai.

Estava à espera daquele dia à anos. Queria contar a alguém a felicidade que sentia ao ter um pai como o meu. Esse dia tinha chegado. Pedro acreditaria e não me chamaria louca como tinha a certeza que muito dos meus ditos amigos me chamariam, ou também nunca iria dizer que tinha uma imaginação fértil. Iria acreditar em mim. Não quis perguntar à minha mãe como ele iria reagir; à minha mãe porque era ela, a única pessoa, que o meu pai desabafava, e caso a minha mãe visse que a visão do meu pai interferisse comigo, falaria comigo. Mas desta vez, não perguntei nada à minha mãe. Acreditara que Pedro iria aceitar e acreditar.

Saí do meu quarto, percorri o corredor e dirigi-me ao hall de entrada. Peguei nas chaves de casa, nas chaves do meu seat e saí. Não dei explicações a ninguém. O meu pai não estava, nem a minha mãe. Mas não disse nada à minha irmã que estava preocupada em fazer as cábulas para o teste que iria ter amanhã. Aquela rapariga safava-se sempre. Não sei como, sei que da primeira e última vez que as tentei usar não consegui e como já temia isso “marrei” a matéria (como o habitual) ate saber tudo. Dessa vez também não quis perguntar à minha mãe como me iria safar... vergonha.

Saí de casa com a máxima velocidade que consegui atingir no meu passo lento de humana a andar. Dirigi-me ao carro e talvez devesse perguntar porque tanta velocidade, mas já sabia a resposta: ansiedade e nervosismo da reacção de Pedro. Inseri a chave e fiz-me à estrada.

A casa de Pedro não era muito longe. Daqui a 10 minutinhos estava lá, e sabia que era daqui a 10 minutinhos que iria confrontar Pedro. Durante a viagem imaginem as varias formas como lhe poderia falar daquele dom do meu pai.

Já avistava o prédio de Pedro do fundo da rua. Procurei estacionamento cá em baixo e pus-me a apreciar o que todos os dias via mas não reparava. O prédio de Pedro tinha uma estrutura arquitectónica fantástica. Adorava aquilo mas só hoje vi realmente como aquilo era. O que mais me chamou a atenção foi o facto do formato de um livro aberto que a parte de cima do prédio tinha.

Enquanto apreciava parece que a minha coragem se começou a desvanecer mas mesmo assim continuei em frente. Saí porta fora do carro e toquei à campainha de Pedro.

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